quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Publicado no Jornal da Cidade de 02/12/2009

Faltam médicos em Sergipe?

Texto: Rilton M. Morais (Neurocirurgião)

Nos últimos seis meses, tem sido alardeado por vários setores da sociedade que faltam médicos em Aracaju. Falam os secretários de saúde, falam os donos de hospitais e laboratórios particulares, falam os donos de planos de saúde, falam os donos de faculdades privadas e falam os políticos. Só faltou falar quem entende de saúde: os médicos. Não estou falando daqueles médicos que receberam o diploma e se esconderam atrás de birôs e cargos burocráticos. Estou falando da Dra. Pediatra do posto de saúde Dona Sinhazinha, do Dr. Médico de Família de Tobias Barreto, do Dr. Ortopedista do HUSE, da Dra. Cardiologista do Hospital de Cirurgia, do Dr. Clínico Geral de Propriá, da Dra. Dermatologista do consultório particular; de todos os médicos de verdade, que passam seus dias, noites e finais de semana a amenizar a dor e o sofrimento, a prolongar a existência e a salvar as vidas dos pacientes do nosso Estado.

E porque será que quem entende mesmo de medicina não tem sido ouvido? Será que Sergipe não produz um número suficiente de médicos para atender a população? Segundo dados oficiais do Conselho Federal de Medicina, no ano de 2003 havia 1 médico para cada 945 habitantes. A Organização Mundial de Saúde diz que o ideal é 1 médico para 1000 habitantes. Nosso Estado é pequeno e o número de profissionais é mais que suficiente.

Se Sergipe não produz a quantidade necessária, por que não vem médicos de outros Estados para ocupar as vagas de emprego existentes aqui? Aracaju é alardeada como a capital da qualidade de vida. Não temos congestionamentos, a violência é pequena. São Paulo possui 1 médico para cada 471 habitantes e o Rio de Janeiro tem 1 para cada 302, segundo a mesma pesquisa. Lá não faltam profissionais, falta emprego. No último concurso para as Fundações de Saúde do Estado foram feitas inscrições e provas no Rio de Janeiro e São Paulo. Quase ninguém quis vir pra cá.

Neste concurso, o salário oferecido para médicos era de R$ 2.000,00 com uma gratificação de mais R$ 2.000,00 (que não vai para a aposentadoria), muitas vezes para profissionais com um mínimo de 11 anos de estudo. E sem as regalias de outras profissões. Sem horário flexível, sem progressão de carreira e na maioria das vezes sem condições de exercer sua função com dignidade.

Na Procuradoria do Estado quase não há sergipanos. E não falta quem queira trabalhar lá. Talvez seja porque o salário é de R$ 17.000,00. Ou será que não faltam advogados? Na Defensoria Pública faltam. Será porque o salário é de R$ 3.500,00? Aí ninguém quer.

Nós médicos precisamos ser mais valorizados. O médico passa seus dias lidando com o que choca todos os outros. Vendo e cuidando do que ninguém quer conhecer. Lutando com as doenças. Vivenciando a dor do próximo. Realmente não há médicos ocupando todos os cargos oferecidos no Estado. Mas é porque poucos se dispõem a assumir estas obrigações com as condições dispostas e pelo salário vil ofertado. Quando os médicos não se dispõem a trabalhar pelos valores ultrajantes oferecidos e se organizam para lutar por uma valorização de sua profissão são acusados de cometer o crime de cartelização, como recentemente aconteceu com os anestesistas.

O problema está não somente no setor público, mas também no privado. Uma consulta médica paga pelos planos de saúde é mais barata que uma depilação de pernas ou um corte de cabelo. Alguns planos de saúde utilizam ainda a tabela de honorários de 1992. O valor pago por uma cirurgia de fimose é menor que uma escovação de cabelos.

Faltam pediatras? Não! Falta quem queira se dispor a trabalhar num ambiente sufocante, com dezenas de crianças lado a lado chorando, sem leitos para deitar. A realidade da pediatria no nosso Estado é de mães estressadas pela falta de condições de resolver o problema dos seus filhos e descontando toda sua fúria na pediatra que faz todo o esforço do mundo para fazer o máximo possível. Muitas vezes não é o suficiente. Quem se disponha a enfrentar tais adversidades deveria ser muito bem remunerado.

Os pediatras de Sergipe são as mulheres e homens mais corajosos que conheço. Não sei que força lhes impulsiona a trabalhar em tais condições. Seja a necessidade financeira, seja a obrigação moral, seja o amor pela profissão. Tratar o problema grave da pediatria como falta de médicos é apunhalar o coração destes heróis do dia-a-dia. A luta pela valorização dos pediatras é a luta pela valorização dos médicos. É a luta pela valorização da vida.

http://movam-se.blogspot.com

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Números para chorar no cantinho do consultório.

Diante da discussão do momento, que é a criação de mais uma faculdade de medicina no nosso estado e a extensão do campus da UFS para Lagarto com mais 100 vagas, gostaria de enriquecer nossos colegas com mais algumas informações.
No Brasil existem 178 faculdades de medicina. Na nossa região, abrangendo Sergipe, Bahia e Alagoas, possuimos hoje 833 vagas de medicina. Com a UNIT serão mais 50 no primeiro momento (100 ao todo) e mais 100 com o campus de Lagarto. Façam as contas.

Oh Deus, onde estás que não respondes?

Estudo Comparativo
Estado
Total de Escolas
Vagas 1º ano
São Paulo
31
2902
Minas Gerais
27
2778
Rio de Janeiro
18
2332
Rio Grande do Sul
11
1052
Paraná
10
853
Santa Catarina
10
584
Ceará
7
642
Bahia
7
603
Paraíba
6
620
Espírito Santo
5
500
Distrito Federal
4
312
Pará
4
390
Pernambuco
4
490
Piauí
4
302
Rondônia
4
290
Tocantins
4
400
Amazonas
3
342
Mato Grosso do Sul
3
190
Rio Grande do Norte
3
236
Maranhão
3
250
Goiás
3
270
Alagoas
2
130
Mato Grosso
2
208
Sergipe
1
100
Roraima
1
20
Acre
1
40
Total Geral
178
16836



Censo IBGE 2007

Origem dos dados: http://www.escolasmedicas.com.br

Rilton Morais

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Tudo tem um começo. Fiat Lux.




"No princípio criou Deus os céus e a terra.

E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.
E disse Deus: Haja luz; e houve luz.

E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas."


Começamos aqui a tentativa de modificar a atual condição da medicina e do exercício desta no nosso estado de Sergipe.
Todos os médicos, estudantes de medicina e aqueles que queiram construir uma nova forma de fazer medicina estão convidados a participar.
O surgimento deste movimento tem uma razão e uma função.
A razão da sua criação está baseada no completo apodrecimento de antigas associações e sociedades médicas voluntárias e na apatia, anulação intencional e distanciamento das entidades compulsórias.
A função da sua criação é mostrar a voz da classe médica que está insatisfeita com as condições de trabalho, a desvalorização do profissional e do desrespeito ao médico.
Pretendemos fazer valer as vontades da maioria. Cansamos de reclamar somente. Não queremos aumentar as hostes dos desistentes. Vamos mudar.

Mudar como? Existe luz no fim do túnel?

No nosso dia-a-dia travamos batalhas sabidamete difíceis de vencer, mas lá estamos. Encarando de frente o inimigo (doença), não deixando baixar o ânimo das tropas (paciente) e encontrando novas estratégias de invasão e ataque (diagnóstico e terapêutica).

Somos ferozes para enfrentar o problema dos outros, mas temos sido dóceis quando o problema é conosco. Agora a doença está destruindo a nossa classe. É a infecção que devora nossa estabilidade econômica, é a depressão que nos impede de desfrutar a plenitude das nossas vidas e das nossas famílias, é a catatonia que não nos deixa reagir. É o câncer, que gerado a partir de células do nosso próprio corpo médico, destrói, corrompe e imobiliza as entidades que deveriam nos representar.

Mas, assim como o enfartado que finalmente reconhece que sua obesidade, fumo, álcool e sedentarismo precisam ser enfrentados de frente; estamos hoje diante de problemas que se não forem atacados agora trarão nossa morte no futuro ou debilitação em breve.

As desculpas para nós mesmos de que a falta de tempo, de vontade, de ânimo e de esperança são suficientes para impedir nossa reação, não cabem mais. Algo precisa ser feito. Precisa começar em algum lugar e de alguma forma. Esse é o momento. Vamos nos unir.

Em breve traremos medidas e ações reais a serem tomadas.

Utilizaremos nosso método clínico de pensamento para diagnosticar os problemas e utilizaremos, todos juntos, nosso planejamento terapêutico para encontrar as soluções.

Nos próximos capítulos: quem é quem na representatividade médica de Sergipe? A morfologia da classe médica.

Dê sua opinião!

Divulgue nosso movimento.